Ao explorar as questões que envolvem a adaptação escolar de crianças, naturalmente este tema nos remete a discursar sobre a teoria do apego de John Bowlby, psicólogo, psicanalista e psiquiatra, estudioso sobre o desenvolvimento infantil.
John Bowlby (1982), em sua teoria sobre o apego, explica que a fim de que uma criança tenha um desenvolvimento psicológico-emocional saudável, enquanto bebê, ela precisa desenvolver uma relação de apego com ao menos um cuidador primário, pois os bebês se apegam àqueles que são sensíveis e receptivos a eles, até o momento em que eles ganham certa independência ao engatinhar e caminhar, de modo que as pessoas familiares a ele lhes transmitem segurança para que sintam-se à vontade para explorar o ambiente. Contudo, este momento de desapego, será marcante e determinante quanto à resposta comportamental que a criança devolverá ao ambiente. Ou seja, a maneira como os pais reagem a este momento de independência e autonomia da criança poderá conduzir a mesma à formação de padrões de apego, os quais, por sua vez, poderão ser projetados posteriormente a partir de suas percepções, emoções e pensamentos anteriores.
Assim, considero muito relevante que os pais tenham conhecimento de que suas reações e comportamentos no momento de desapego e separação momentâneos significam muito mais do que somente ações observadas naquele breve instante. Tais padrões de conduta podem deixar marcas para uma vida inteira.
Por que fazer com que os pais compreendam as implicações psicológicas sobre aparentemente um tema corriqueiro? Afinal, quantos pais já não passaram por este momento, tão difícil e doloroso, de ter que desapegar por um determinado período de seus bebês a fim de cumprir com suas obrigações diárias? Inúmeros. No entanto, acredito que a grande maioria tenha tido dificuldades em saber lidar com este momento, seja com eles mesmos e suas emoções, seja com seus pequenos.
Dentro deste contexto, o mais importante a se observar é que não há uma maneira correta ou errada de lidar com este processo, mas sim, um modo embasado em conhecimento prévio de como tal ato poderá impactar positivamente ou negativamente sobre as reações da criança. Assim sendo, conhecendo tais preceitos, os pais desses bebês se sentirão mais seguros sobre como lidar com esta fase da vida da criança.
Por conseguinte, recomendo aos pais que para esta fase de adaptação escolar de seus filhos, sejam modelos de referência (espelhos) em seus comportamentos e atitudes, pois as crianças replicarão os mesmos. Logo, é importante que estes modelos demonstrem segurança, confiança, convicção e afirmação, pois estes a auxiliarão a acreditar em si mesma e a desenvolver sua independência e autonomia para explorar as relações e o ambiente com confiança e segurança. Por outro lado, modelos inseguros e ansiosos fazem com que as crianças se mostrem relutantes e evitativas com o inesperado e temerosas quanto à separação da figura de apego, tornando o processo exploratório de conhecimento comprometido.
À vista disso, pais, atentem-se que a criança tende a buscar novas figuras de referência que a faça sentir-se segura em um contexto externo, não menosprezando sua presença, no entanto, sua atitude e posicionamento perante tais ações poderão a auxiliar (ou não) na construção de sua própria personalidade, comportamento e postura perante ao mundo exterior.
by Lilian Moitinho
Psicóloga e Pedagoga
Referência Bibliográfica Bowlby, John. Attachment and loss, volume I, attachment. Disponível em https://www.abebe.org.br/files/John-Bowlby-Attachment-Second-Edition-Attachment-and-LossSeries-Vol-1-1983.pdf. Acesso em 20/11/2019.