Todas as crianças – que não estejam enfrentando deficiências cognitivas – passam por estágios semelhantes de desenvolvimento da linguagem. E aqui não me refiro apenas à língua materna, mas também ao aprendizado de duas línguas ao mesmo tempo. Quando a criança é exposta a mais de um idioma na primeira infância com interações de qualidade e quantidade adequadas, os processos de estágio de aquisição da linguagem são os mesmos. Algumas crianças podem adquirir suas primeiras palavras antes que outras; essas diferenças individuais não significam atraso no desenvolvimento linguístico e podem ser vistas também em crianças bilíngues.
Por isso, afirmo que o aprendizado de duas línguas simultaneamente não apenas não confunde a cabeça da criança como também proporciona uma experiência cognitiva riquíssima. Quando pensamos nas línguas abordadas na nossa escola, ou seja, o Inglês e o Português – línguas com estruturas muito diferentes – isso fica ainda mais evidente, visto que a criança terá o esforço de organizar a estrutura linguística de cada uma delas. Aí vocês me perguntam: “é normal a criança usar um pouco de uma língua e um pouco de outra ao se comunicar?”. Bem, se pensarmos que os pequenos ainda estão em processo inicial de formação e aquisição da língua, é absolutamente natural a criança misturar os idiomas. Afinal de contas, ela está fazendo uso de ferramentas que a ajudam a compensar aquilo que ainda não sabe de um e de outro. Naturalmente, conforme ela for tendo mais e mais conhecimento, não será mais necessário se apoiar em um quando for falar do outro. Dessa forma, fica claro que misturar os idiomas não quer dizer que a criança está confusa.
Ligia Botelho – Diretora Pedagógica